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Wednesday, June 28, 2006

Detalhe de janela de uma casa antiga

CANAL


Nada mais sou que um canal

Seria verde se fosse o caso

Mas estão mortas todas as esperanças

Sou um canal

Sabem vocês o que é ser um canal?

Apenas um canal?


Evidentemente um canal tem as suas nervuras

As suas nebulosidades

As suas algas

Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas

Mas por favor

Não pensem que estou pretendendo falar

Em bandeiras

Isso não


Gosto de bandeiras alastradas ao vento

Bandeiras de navio

As ruas são as mesmas.

O asfalto com os mesmos buracos,

Os inferninhos acesos,

O que está acontecendo?

É verdade que está ventando noroeste,

Há garotos nos bares

Há, não sei mais o que há.

Digamos que seja a lua nova

Que seja esta plantinha voacejando na minha frente.

Lembranças dos meus amigos que morreram

Lembranças de todas as coisas ocorridas

Há coisas no ar...

Digamos que seja a lua nova

Iluminando o canal

Seria verde se fosse o caso

Mas estão mortas todas as esperanças

Sou um canal.

(Patrícia Galvão - Pagu)


Como o tempo tem suas ironias


Uma espera em hospitais, minhas rugas, minha lembrança viva, a a guardiã de minhas memórias recônditas, e eu sem nem poder me despedir, logo um dia após felicitar em meio a balões coloridos meu mais pequenino ser risonho...
Chuvas, arco-íris tímido, e, de repente, um sol intenso que rompe as nuvens e, por segundos, enche meu rosto de luz.
Dormia em banco recostado, signo de cansaço e ansiedade, tudo assim, tão terminal e paradoxalmente pulsante.
Sentia-me tão alheia a este universo do cinza, justo no momento em que pegava o ônibus para Satolep, a cidade mais cinza da região do frio.
Nenhum momento se repete, o que é o mais fascinante nisto tudo.
Digamos que, hoje, estou definitivamente imersa no preto & branco (ou seria nos contrastes?)...

Saturday, June 24, 2006

Acerca de uma quinta-feira qualquer (Brasil pára por jogos de futebol)

Sentir o despretencioso de virtudes

Ah, que males estes de procurar uma terceira pessoa (que não encontro).

Teimo na escrita de mim, e nada verte além de sangue (ou pólvora) daquelas lembranças de infância. Meus poucos trocados íam ao brinquedo explosivo e eu me divertia, só, a caminhar e ouvir os barulhos.

Como hoje.

Estávamos eu e a cidade, por alguns instantes. Contemplávamos os nossos mundos, as nossas diferenças e os nossos pertencimentos.

A nossa simetria.

Foi estranho este encontro a sós. Porque naquela tarde tudo parara, eu a andar. E engraçado que meu véu era o observar: os barulhos e as bolhas de sabão, que me atrevi aos montes.

Aquele dia de rememorar

de dar nós na garganta

dos olhos que brilham

Que alguns chamam de "Hoje"

Eu chamaria de sempre em mim.


Tuesday, June 20, 2006


Van guarda
corpo
estrume
de espermas
(pouco) jorrados
ah, o humor
húmus
cuspido
na cidade
a la nave
louca
de um suspiro
qualquer
marginal
cronópio
palavra...
esse signo
que fere
fura
atravessa
e
rompe
rasga
Uma flor também
queima

Thursday, June 01, 2006

Fonte:
Blog No Instante

Uma das coisas mais bonitas: interessante como tudo chega despretenciosamente, ao acaso.

Primeiramente, uma maravilhosa sequência de slides sobre Gláuber Rocha e o cinema, que encontro quando procuro uma poeta paulista. E depois, um dos blogs mais interessantes que me deparei nos últimos tempos, quando faço uma procura por 'poesia e fotografia'...

Sem palavras.. Deixem que 'No instante' fale por si...

"Sempre procuro um outro ângulo para me espiar de longe. Não é aconselhável permanecer muito perto do que se conhece. Tenho olhos maiores do que o rosto. Meus olhos crescem quando estou com fome. A fome cresce sem olhos. Minha maior vantagem é a de estar vivo para me discordar"
(F.Carpinejar)

Coisas que me perpassam como linhas, estas linhas de afeto que me fazem sentir a corrente, o movimento.
Tal escrito me atravessa no justo momento em que procuro alguns referenciais pouco mais familiares, no meu cotidiano por vezes não percebido.
Também quando resolvo me calar, e quando passeio silenciosamente com meus cachorros pela cidade cinza, e quando vivo um filme e não seguro as lágrimas, e até quando fico na janela a olhar os passantes e a mexer no meu cabelo.
Foi assim, tão de repente, ainda que sob o choque contundente das pequenas decepções, que percebi que somos muito mais povoados (as) do que pensamos...
E é ótimo, realmente, poder discordar-me.

Nós nascemos na Sbórnia
Lá o sistema político é o Anarquismo Hiperbólico