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Friday, February 09, 2007

Procurar o alvo. Tantos objetivos fracassados, tantos sonhos deixados de lado. A sensação é a de que não os abandonei, apenas os permiti a gestação, para manter meus não-abortos despertos a um tempo mais maduro, porém também febril, não há margem que não contenha um tanto de embriaguez.
Andei revivendo a leitura de um não-lugar não mais habitado, povoado somente por silêncios e fissuras, por descompassos, enfim.
Memória tal qual mandrágora que fere o que já é ferida. Mas como buscar cura, se já não há? Melancolia dos desprazeres movidos a anti-depressivos... Preferi a escrita. Onde está a carne em meio a todas estas letras jogadas ao pó? Cavei meu próprio túmulo nesta escuridão chamada noite-quente-de-fevereiro. Mas o que posso fazer, se me dói a garganta?
Mereço uma meninice de rompante, gritando atenção. Mas que bobagem esta de dar milho às pombas. Sacrifício cotidiano da incompreensão. Let fly. E sempre que um barbante prende, dá-se um jeito, a vida e suas intermitências. No meu tempo tatuagem era "decalque". Ainda sonhei que me escreviam poesias malditas pelas pernas. E não eram decalques.

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Como vou apagar,
a palavra carne
pressupõe desejo, vontade,
mas fui roubada
de mim
em meio à ebriedade.

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E para quê tantas mensagens sem um destino fixo? Carrossel de passagem, dê mais uma volta.
Mas eu passei para alguns brinquedos mais tempestuosos...
Aquela poesia só me fez chorar... e dormir.

Tuesday, February 06, 2007

Lendo escritos antigos

Comentários antigos

Será que enlouqueci

Em meio a tantas...

Letras?

Memória revisitada [alguns fragmentos extemporâneos sofreres de caos]

Escrevendo pouco ou nada;

Vivendo, e constituindo-me de outras formas de escrita.

Escrita-olhar, escrita-lágrima.

Ainda hoje vi um pássaro na esquina

Que me contava poesias de desassossego...

– Onde termina teu corpo e começa o céu, dizia.

Esta visita-canção que me remete ao cálice,

Dor e lágrimas de fugas sem começo

Desencontro do frio e calor

Vazia.

Despertando entre o cume de paixões sem fim,

O que significa esta canção?

Um caminho, uma estrada, passos.

Eu, criança sem moradas,

Longe de todos,

Encontro em um rosto o amparo

Dos pássaros que voam,

E, vivos, sempre partem...

Mas a partida de já não estar ali

Não advém de desconsolos,

E é para além do céu

Que sempre dizem para tomar como verdadeiro.

Este canto não deseja dizer muita coisa...

Pretensões falíveis de mundos oníricos

De abraços, confortos sem armaduras,

Muros não mais escadas.

Finalmente decidida... Ainda que de pouco,

É para ti que está escrita esta canção.

Desejo, apenas.

Constituída de naus

De mares...

De movimento.

Oscilações e metamorfoses

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Onde está meu relógio?

Ah, me esqueci.

Ele se foi e só volta meia-noite, horário de Dodecaedro,

E de recomeçar:

Escrevendo pouco ou nada;

Vivendo, e constituindo-me de outras formas de escrita.

Escrita-olhar, escrita-lágrima.

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Tudo isto é um erro.

Mas bem pode ser sincero.

Monday, February 05, 2007

Buenos Aires - La Boca

[Pequen]Os deslizes da palavra

Explicação desnecessária II:

Recorte feito da seção “Os deslimites da palavra”, do Livro das Ignorãças, de Manoel de Barros. O intuito é jogar com o não pertencimento, com a ruptura da identidade do poema acabado, em busca da leitura que constrói por meio da re-significação. Uma nova ordem, uma nova significação... Outros funcionamentos para os modos diversos de combinação. Enfim, desarrumei ao meu modo a desarrumação do delírio frásico do canoeiro: e que a palavra siga voando fora da asa...

DIA UM

Ontem choveu no futuro.

Estas águas não têm lado de lá.

Daqui só enxergo a fronteira do céu

Os nomes já vêm com unhas?

Ninguém que tenha natureza de pessoa pode

esconder as suas natências.

Sou o passado obscuro destas águas?

Do meu destino eu mesmo desidero.

Falo sem desagero.

Meu olho tem aguamentos.

(Fui urinado pelas ovelhas do senhor?)

Sou puxado por ventos e palavras

(Palestrar com formigas é lindeiro de insânia?)

Não tremulam por mim os estandartes

Maior que o infinito é o incolor

Eu sou meu estandarte pessoal.

Preciso do desperdício das palavras para conter-me

O meu vazio é cheio de inerências

Sou muito comum com pedras

(tirei as tripas de uma palavra?)

A chuva deformou a cor das horas.

A placidez já põe a mão nas águas.

Do que não sei o nome eu guardo as semelhanças.

(Minha boca me derrama?)

Não tenho competências para morrer.

O céu tem mais inseto que eu?


SEGUNDO DIA

Não oblitero moscas com palavras

Uma espécie de canto me ocasiona

Eu escrevo o rumor das palavras

Só sei o nada aumentado.

Eu sou culpado de mim.

Vou nunca mais ter nascido em agosto

No chão de minha voz tem um outono.

Sobre meu rosto vem dormir a noite

Ajeito as nuvens no olho.

A luz das horas me desproporciona.

Sou qualquer coisa judiada de ventos

Desenvolvo meu ser até encostar na pedra

Aceito no meu fado o escurecer.

No ermo o silêncio encorpa-se.

Confesso meus bestamentos.

(Dou necedade às palavras?)

Estou irresponsável de meu rumo.

Me parece que a hora está mais cega.

Cheiroso som de asas vem do sul.

(Sou pessoa aprovada para nadas?)

Quero apalpar meu ego até gozar em mim

Ando muito completo de vazios.

Meu órgão de morrer me predomina.

Estou sem eternidades.

Não posso mais saber quando amanheço ontem.

Está rengo de mim o amanhecer.

Esfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.

As sujidades deram cor em mim.

Estou deitado em compostura de águas

Minha luta não é por frontispícios.

O desenho do céu me indetermina

Às vezes passo por desfolhamentos

O ocaso me ampliou para formiga

Ajeito os ombros para entardecer.

Vou encher de intumências meu deserto

O infinito do escuro me perena.


TERCEIRO DIA

(existe um tom de mim no entardecer?)

Palavra que eu uso me inclui nela.

Engastado em meu verbo está seu ninho.

O ninho está febril de epifanias.

(com a minha fala desnaturo os pássaros?)

Minha voz inaugura os sussurros

Nas minhas memórias enterradas

vão achar muitas conchas ressoando.

Durmo na beira da cor.

(Eu tenho amanhecimentos precoces?)

Não sei mais calcular a cor das horas.

Alguns pedaços de mim já são desterro

Me mantimento de ventos.

Tenho uma dor de concha extraviada.

Uma dor de pedaços que não voltam.

Eu sou muitas pessoas destroçadas.