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Sunday, December 02, 2007

Faço um filme da cidade sob a lente do meu olho - um exercício de escrita em vários ângulos

Beatriz Ferreira ₢

Recordo-me das pinturas do Romantismo, no qual as ruínas figuravam como elemento representante de melancolia, mas também de uma realidade interior, em que a natureza é fator predominante. Homens figuram ao redor de paisagens em ruínas, porque nelas, a natureza se sobrepõe à obra constituída.

Esta é uma imagem que foi feita em São José do Norte, em 2007. Um lugar que aprecio muito, não somente pela possibilidade de avistar a cidade de Rio Grande ao fundo, mas por aqui haver uma ruína que vai se modificando com as estações, sendo tomada cada vez mais pelas forças das águas.

Estava com um grupo de amigos, fotografávamos e mostrávamos as belezas daquela pequena cidade para outros amigos estrangeiros. Nesta parte do percurso, um grupo de crianças percebeu a incidência de uma língua outra, e começou a dizer “-Hi, my name is ...”. O interesse que, em princípio, era pelos estrangeiros, transformou-se num interesse em saber o que estávamos fotografando. Uma pergunta impactante, feita por uma delas: “-O que tem para fotografar aqui em São José do Norte, moça?”. Eis que, depois de momentos de descontração, olhávamos o pôr do sol. As crianças se dispersaram, e uma delas se sentou na pedra, um dos resquícios de uma grande casa, que está completamente em ruínas.

Sem ela perceber, havia muitas coisas, sim, a serem fotografadas naquele belíssimo lugar. Incrível como a menina se relaciona com a paisagem, como se estivesse sempre ali, à minha espera.

Friday, November 23, 2007

Dizer



Sobra tanta falta

Falta tanta coisa na minha janela, como uma praia

Falta tanta coisa na memória, como o rosto dela

Falta tanto tempo no relógio, quanto uma semana,

Sobra tanta falta de paciência que me desespero

Sobram tantas meias verdades que guardo pra mim mesmo

Sobram tantos medos que nem me protejo mais

Sobra tanto espaço dentro do abraço

Falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo

Sei lá se o que me deu foi dado

Sei lá se o que me deu já deu

Sei lá se o que me deu foi dado

Ou se é seu

Sei lá



Dizeres que me perpassam... Arte digital: Steffania Paola. Poesia: Carlos Trevisan, para música de "O Teatro Mágico".

Wednesday, October 31, 2007

Nous aimons!

L'étrange!

Endereço

Rua C.C.C., 654.

Uma beleza de endereço para se achar no google earth, e um número fácil para pessoas com pouca memória.

Eu tenho dificuldade com números e nomes. Mas acontecimentos gravo bem! Sabe, é assim, e tem sido, tudo meio descontraído. Tem até espaço para estender lençóis, e eu às vezes estendo rede também - e por vezes me deito até na chuva. "- O que você quer ser quando crescer?", tenho me perguntado. Jorge Ben responderia jogador de futebol, mulher de milionário, presidente, eu diria deitadora de redes. Porque não é uma atividade fácil a de perceber as pequenezas do mundo. As estrelas são bem pequeninhas quando a gente olha pra cima, sabe. E eu ando percebendo que a gente consegue olhar o mundo bem melhor quando está de cabeça pra baixo. Deitadora de redes. Uma boa ocupação. Já não diria profissão, porque acho que não tem preço. As barbas de Marx também me encomodam. Através delas não se vê estrelas! Quantas grandezas pretenciosas. Eu ainda fico com o desconhecido. Não tenho banheira. Não tenho piscina. Mas tenho a chuva, sabe. E muitas vezes ela me conduz, ainda que eu teime em comprar guarda-chuva colorido. Roxo, verde, laranja, com bolinhas, listras, até transparente já comprei. Que aliás não guardam nada. De vez em quando eu fico latindo, meus cachorros me sobem à cabeça, e é como se a língua que por convenção me comunico (??) não me pertencesse mais. Mas às vezes - muito às vezes(!!) - eu escrevo. E conto estas coisas desprotegidas que me protegem. E mesmo não estando inspirada, eu procuro a inspiração. Tenho lido histórias em quadrinhos, e feito amigos. Sabe, a gente se desaponta com as certezas - e até as pessoas vão se reciclando. Eu me engano muito com elas, são poucas as que ainda continuam em atalhos na minha vida. Sim, eu sei, as distâncias são necessárias, mas eu acho que é por causa delas que prefiro latir. Enquanto alguns matam cachorros e chamam isso de "arte". O meu maior susto foi aquele de todos os dias, porque eu estou deixando mesmo de esperar. Sabe aquela figura ali bem no cantinho? Então, foi uma fotografia de uma fotografia de uma fotografia de uma fotografia de uma joaninha que eu fiz pra minha amiga nine, que está longe, mas que tem muitos atalhos em mim. Eu quero só ver. Para quê saber o meu endereço se não vem me visitar?

Tuesday, October 30, 2007

Faubourg Saint-Denis


Escuta.

Às vezes a vida exige uma mudança.

Uma transição.

Como as estações.

Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão terminou e deixamos passar o nosso outono.

E agora, de repente, faz frio, tanto frio que tudo se congela.

Nosso amor dormiu e a neve o tomou de surpresa.

E se dormes na neve não sentes vir a morte.

Cuide-se.

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De um dos filmes mais bonitos - Paris, je t'aime. "Faubourg Saint-Denis", de Tom Tykwer - Um dos curtas. O que mais gostei. Porque me diz muito.



Wednesday, October 17, 2007

Happy weekend


Dias encantadores.
Companhias mágicas.
Traços do querido Bruno, que não é imagem, mas é sonho.
Eu. Nós.

Monday, September 03, 2007

Pureza

Pureza - fotografia p & b com técnica de clichê vère, 2005

Eu só estava terminando de ler as linhas da tua mão quando vi aquele acidente que não se chama destino, e nem acaso, - mas tempo - passar por entre as linhas que ligavam marcas novas na tua pele, foi aí que eu percebi que mais te conheço quando te toco, e que tudo isso ocupa o mesmo lugar nestas rachaduras que eu sempre chamei de cortes breves, mas que demoraram meses, feridas insistentes, pois nunca respeitei o tempo. Tua mão, sim, ela me deu um alento, mas não foi querendo me dar direções, eu também nunca respeitei as linhas, e por isso me sinto um tanto inquieta por vezes. Mas foi naquele dia em que senti que era a última vez que desvendaria teus traços mais simples que algo surgiu...

Wednesday, August 22, 2007

Des-forme

Irregularidades da noite
São esses afazeres de poços profundos
Em que te fazes tão breu
Notícias silenciosas também te calam
Enquanto a solitude se avizinha
Nada brilha mais
A não ser aquela poeira que ficou
Sem espaço escolhido,
Promocionalmente esquecida.
Onde te dói, noite
A não ser naquilo que mais calas?
Qual desvio de ti se aproxima?

Sunday, August 05, 2007

O mais novo parto! ou ié!


Incrível! Assim como sobre uma corda, é essa a matéria do pensamento-bamba! Tanta ânsia não me diria quão prazeroso é o sabor de caminhar... Uma corda... Tão pouco se precisa...

Saturday, July 14, 2007

Sábado...

Os pássaros, a ponte, as mesmas frases pintadas, o céu, o sol. “Um dia como outro qualquer” com um quê melancólico. Este lugar não me pertence, mas é como se estivesse difusa em cada limiar dessas passagens. Lá sou eu, aquele pássaro negro entre pássaros brancos, a única passagem livre para motos, a pedra que o homem resolveu pintar e chamar de casa, alguma incidência leve de movimento nos galhos das árvores, sou eu também que as sopro. Sou a árvore que não respeita a linha, um galho seco onde tudo o que se vê é água, sou mesmo uma natureza morta, e somente poucos percebem que, na verdade, não passo de uma natureza adormecida...

Sou as roupas coloridas estendidas num varal. Eu sol.

Eu sou o reflexo do céu nas poças de chuva. Sou também uma cerca que não delimita. Sou ainda a bagagem daquela senhora. E às vezes, eu carrego nada.

Eu sou o vôo rente, e estou sempre abraçando a grande figueira, logo que passa o desvio do trem.

Eu sou um abraço.

Sou um bicho sem socorro no asfalto.

Wednesday, June 13, 2007

Dos exploradores da Palavra


Seção última e íntima sobre um processo de arqueologia da pele


Musicando vestígios I


Intervenção visual no MALG. Saída pela sala – espaço muitas vezes mortuário, o museu – portando uma bicicleta. Desconcerto dos espectadores, que conversam o que jamais saberei. Gravura, espaço e tecedura de texturas. Vou tecendo através dos meus não-passos por (pneu de) bicicleta.

Pneu vazio vai me dando as margens deste percurso ao acaso: sinto pernas enrijecerem-se mediante a troca das texturas alternantes asfalto-pedra-calçada sinuosa. A cada troca, este movil trabalhando por princípios físicos me propõe novas experimentações de meu corpo e do espaço. Já não traço as ruas pelos seus vulgares referenciais (universidade, farmácia, bar), na verdade seus usos foram negligenciados, este é um percurso dos afetos potencializados pela matéria.

Andei fazendo algumas gravuras pelo caminho... Mas delas não tenho vestígios.


Musicando vestígios I ½


Pode parecer ambígua a idéia de fazer gravuras imaginárias. Logo estas, que têm a necessidade da matéria (enquanto matriz, o pneu)...

Mas me detenho na gravura enquanto incisão. Incisão ao acaso daquilo que se desfaz sem ter sido: gravura imaginária como pequenas incisões imperceptíveis no asfalto.

Thursday, May 17, 2007

Espinhos, esporas*

Havia uma tarde ensolarada em meio àqueles desconfortos casuais. Ele sentou. Abriu o casaco, e tentou se sentir menos inquieto. Nas flores o orvalho, mas não, ele não o podia tocar. A perfeição que lhe sugiria não comportava as incertezas. Mas por quais recônditos se escondiam tais lapsos de perfeição? O mundo não era nem um pouco sereno... Sábio se achava, mas estava só. Enfim, a vida se apresentava tal qual dobra, fissura, e já não tinha como dominar. A dor se instaura, e neste instante já está tentando esticar as pernas, e esquecer. Não é uma simples dor de cabeça de quem chega esgotado depois de um dia repleto de repetições. Não. Era algo mais, e não se poderia precisar. Tanto quanto rio que cruza com lagoa, era a sua ilusão de pertencimento no mundo. E não o bastavam os devaneios de um caminhante solitário, esperava bem mais da solidão.

Fecha os olhos. Esquece, esquece, esquece! - Mas não consigo!

Vai lutando, até que.


Agora que tudo parece mais calmo, e por vezes límpido, decide ligar as luzes. Desconfia de si e de todos. Olha no espelho, e finge estar contente. - Não preciso mais disto.

Sai de casa em busca de alguém com quem dividir [o seu vazio].

Bate a porta, mas não convence a ninguém.

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Embebida em Orós
* Sobre a renda labirinto pedras no meu peito aberto em chaga amor
Conheço a morte e a paixão, conheço a morte e os espinhos... esporas...


Wednesday, April 18, 2007

Sunday, March 04, 2007





Naquele meio-termo, tempo, surgira todo um mundo por entre uma fissura escolhida. Pedia passagem, e também acolhimento. Aconteceu que não o notara por entre a caminhada, cercania do verde de uma tarde de primavera quaquer. Nenhum vidro o cobria, estava exposto, mas isto definitivamente não era o bastante. Corta pele, vidro, prejudica a escrita, mas não o olhar-acaso. Foi assim que o verde surgiu em meio a nuvens de uma madeira mal-tratada. Casa, morada, pele? Já não se pode habitá-la só.

Friday, March 02, 2007

Ponerse

Movimiento

Repentino


Rompante

Deseo


Piel y pelo

Friday, February 09, 2007

Procurar o alvo. Tantos objetivos fracassados, tantos sonhos deixados de lado. A sensação é a de que não os abandonei, apenas os permiti a gestação, para manter meus não-abortos despertos a um tempo mais maduro, porém também febril, não há margem que não contenha um tanto de embriaguez.
Andei revivendo a leitura de um não-lugar não mais habitado, povoado somente por silêncios e fissuras, por descompassos, enfim.
Memória tal qual mandrágora que fere o que já é ferida. Mas como buscar cura, se já não há? Melancolia dos desprazeres movidos a anti-depressivos... Preferi a escrita. Onde está a carne em meio a todas estas letras jogadas ao pó? Cavei meu próprio túmulo nesta escuridão chamada noite-quente-de-fevereiro. Mas o que posso fazer, se me dói a garganta?
Mereço uma meninice de rompante, gritando atenção. Mas que bobagem esta de dar milho às pombas. Sacrifício cotidiano da incompreensão. Let fly. E sempre que um barbante prende, dá-se um jeito, a vida e suas intermitências. No meu tempo tatuagem era "decalque". Ainda sonhei que me escreviam poesias malditas pelas pernas. E não eram decalques.

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Como vou apagar,
a palavra carne
pressupõe desejo, vontade,
mas fui roubada
de mim
em meio à ebriedade.

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E para quê tantas mensagens sem um destino fixo? Carrossel de passagem, dê mais uma volta.
Mas eu passei para alguns brinquedos mais tempestuosos...
Aquela poesia só me fez chorar... e dormir.

Tuesday, February 06, 2007

Lendo escritos antigos

Comentários antigos

Será que enlouqueci

Em meio a tantas...

Letras?

Memória revisitada [alguns fragmentos extemporâneos sofreres de caos]

Escrevendo pouco ou nada;

Vivendo, e constituindo-me de outras formas de escrita.

Escrita-olhar, escrita-lágrima.

Ainda hoje vi um pássaro na esquina

Que me contava poesias de desassossego...

– Onde termina teu corpo e começa o céu, dizia.

Esta visita-canção que me remete ao cálice,

Dor e lágrimas de fugas sem começo

Desencontro do frio e calor

Vazia.

Despertando entre o cume de paixões sem fim,

O que significa esta canção?

Um caminho, uma estrada, passos.

Eu, criança sem moradas,

Longe de todos,

Encontro em um rosto o amparo

Dos pássaros que voam,

E, vivos, sempre partem...

Mas a partida de já não estar ali

Não advém de desconsolos,

E é para além do céu

Que sempre dizem para tomar como verdadeiro.

Este canto não deseja dizer muita coisa...

Pretensões falíveis de mundos oníricos

De abraços, confortos sem armaduras,

Muros não mais escadas.

Finalmente decidida... Ainda que de pouco,

É para ti que está escrita esta canção.

Desejo, apenas.

Constituída de naus

De mares...

De movimento.

Oscilações e metamorfoses

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Onde está meu relógio?

Ah, me esqueci.

Ele se foi e só volta meia-noite, horário de Dodecaedro,

E de recomeçar:

Escrevendo pouco ou nada;

Vivendo, e constituindo-me de outras formas de escrita.

Escrita-olhar, escrita-lágrima.

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Tudo isto é um erro.

Mas bem pode ser sincero.

Monday, February 05, 2007

Buenos Aires - La Boca

[Pequen]Os deslizes da palavra

Explicação desnecessária II:

Recorte feito da seção “Os deslimites da palavra”, do Livro das Ignorãças, de Manoel de Barros. O intuito é jogar com o não pertencimento, com a ruptura da identidade do poema acabado, em busca da leitura que constrói por meio da re-significação. Uma nova ordem, uma nova significação... Outros funcionamentos para os modos diversos de combinação. Enfim, desarrumei ao meu modo a desarrumação do delírio frásico do canoeiro: e que a palavra siga voando fora da asa...

DIA UM

Ontem choveu no futuro.

Estas águas não têm lado de lá.

Daqui só enxergo a fronteira do céu

Os nomes já vêm com unhas?

Ninguém que tenha natureza de pessoa pode

esconder as suas natências.

Sou o passado obscuro destas águas?

Do meu destino eu mesmo desidero.

Falo sem desagero.

Meu olho tem aguamentos.

(Fui urinado pelas ovelhas do senhor?)

Sou puxado por ventos e palavras

(Palestrar com formigas é lindeiro de insânia?)

Não tremulam por mim os estandartes

Maior que o infinito é o incolor

Eu sou meu estandarte pessoal.

Preciso do desperdício das palavras para conter-me

O meu vazio é cheio de inerências

Sou muito comum com pedras

(tirei as tripas de uma palavra?)

A chuva deformou a cor das horas.

A placidez já põe a mão nas águas.

Do que não sei o nome eu guardo as semelhanças.

(Minha boca me derrama?)

Não tenho competências para morrer.

O céu tem mais inseto que eu?


SEGUNDO DIA

Não oblitero moscas com palavras

Uma espécie de canto me ocasiona

Eu escrevo o rumor das palavras

Só sei o nada aumentado.

Eu sou culpado de mim.

Vou nunca mais ter nascido em agosto

No chão de minha voz tem um outono.

Sobre meu rosto vem dormir a noite

Ajeito as nuvens no olho.

A luz das horas me desproporciona.

Sou qualquer coisa judiada de ventos

Desenvolvo meu ser até encostar na pedra

Aceito no meu fado o escurecer.

No ermo o silêncio encorpa-se.

Confesso meus bestamentos.

(Dou necedade às palavras?)

Estou irresponsável de meu rumo.

Me parece que a hora está mais cega.

Cheiroso som de asas vem do sul.

(Sou pessoa aprovada para nadas?)

Quero apalpar meu ego até gozar em mim

Ando muito completo de vazios.

Meu órgão de morrer me predomina.

Estou sem eternidades.

Não posso mais saber quando amanheço ontem.

Está rengo de mim o amanhecer.

Esfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.

As sujidades deram cor em mim.

Estou deitado em compostura de águas

Minha luta não é por frontispícios.

O desenho do céu me indetermina

Às vezes passo por desfolhamentos

O ocaso me ampliou para formiga

Ajeito os ombros para entardecer.

Vou encher de intumências meu deserto

O infinito do escuro me perena.


TERCEIRO DIA

(existe um tom de mim no entardecer?)

Palavra que eu uso me inclui nela.

Engastado em meu verbo está seu ninho.

O ninho está febril de epifanias.

(com a minha fala desnaturo os pássaros?)

Minha voz inaugura os sussurros

Nas minhas memórias enterradas

vão achar muitas conchas ressoando.

Durmo na beira da cor.

(Eu tenho amanhecimentos precoces?)

Não sei mais calcular a cor das horas.

Alguns pedaços de mim já são desterro

Me mantimento de ventos.

Tenho uma dor de concha extraviada.

Uma dor de pedaços que não voltam.

Eu sou muitas pessoas destroçadas.

Wednesday, January 31, 2007

desoladora virtude
não vestes vermelho
não és digna
bobagem esta a de significar
assim pretenciosamente
uma vida de cruezas banais
manipulas o que não possuis
doam-se os que não têm pulso
enfrentar-te é não se deixar seduzir
por teus lábios fétidos
- veneno lançado ao chão -
de uma inconsequência qualquer.
ah, mulher,
como podes dizer que autenticidade
é fecalidade
sim, a merda é mais respeitável
não temas a dúvida.
para que santos
se o batismo já foi reinventado
apoia a tua face no lodo
ele te repensará.

Monday, January 29, 2007

Buenos Aires sangrando
palavra-chão
de um corpo-pele amassado
fragmento despedida
de uma sensação linda
o simples jogar-se
ao tempo de dançar
ao som do movimento...
desabrochar.
las espaldas duelen
e já não me contento em passar
tal qual água corrente
de movimento incessante
irremediáveis contornos
de rosto seco, a chorar
demorar-se em si mesmo
tanto quanto silenciado
daqueles retornos corridos
ah, a angústia agora
é suor, tudo tão quente
e o corpo já não se fere
auto-flagelo de outrora
agora é um quarto vazio
querendo-se povoar
não, não é por conveniência
alguns chamam isso de saudade
e chego cada vez mais,
aproximando cercanias
ao redor e tudo mais
e os kilômetros se vão
seja a 140 e poucos (ou não)

fim da borracharia
e do pernoite
corpos estendidos
ao longo da estrada
sangue nuvens e pouco luto
desvia-se do buraco
mas não da noite
[meia-noite]

rumo ao nada-tudo
de algum porvir
será o lodo a bater?
mas não há porta
quiçá identidade...

só se tem passagem...

Wednesday, January 17, 2007


mercado de pulgas - Buenos Aires / Argentina