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Tuesday, June 17, 2008

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Queria contar a história que vivi.
Contar os descaminhos da minha memória.
Mas isso não tem nenhuma relação com recordar...
Não olho para trás quando olho para trás.
Queria habitar um entre, um território não-cinza.
Um lugar que fosse sendo criado, como todo passo,
Todo caminho.
Queria compor uma geografia dos meus passos.
Uma anti-análise do meu afeto.
E o saborear de uma criação.
Apenas sentir o passar do vento ao redor dos meus cabelos.
A vertigem de ficar estática por cinco minutos.
Acordada, sem saber.
Queria sentir o toque da mão... sobre a mão.
Como se me tocasse, e isso me fizesse sendo.
Um corpo.
Um corpo que anda.
Um corpo que anda e sente.
Queria percorrer este lado obscuro da minha memória.
Em que me faço outra, a cada história que conto.
Narrando-me, eu abro espaço para muitas outras
Que não fui.
E que agora estou sendo.
Pois sou corpo.
Corpo.


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Wednesday, June 11, 2008

Deve haver algum sentido em mim... *

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Passos se desfazem em meio a folhas secas, que tomam conta de um outono tardio. Colorações movidas pela decomposição: do dia, do verde, das intenções, das lembranças. O ferro mantém um pigmento natural, e sobre ele, passagens de sentidos múltiplos. Andei pensando que por frestas também se podia sonhar, eis que o vento chega e me sacode as inquietações... Passar uma noite acordada olhando para as ausências pode até comover. Mas percebi que na paisagem me perpasso, e também nas frestas encontro algum alento. Se em algum momento eu me vi refém de mim, sofrivelmente foi aquele não que, de modo inalterável, fez-me ver que, sim, ainda é possível sonhar. Olho além. E ainda vejo vida. Então...


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* Imersa em “Deve haver algum sentido em mim que basta”, da Companhia de Teatro Autônomo, do RJ.


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Thursday, June 05, 2008

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Poética dos descompassos trazidos em nó, andava caminhando por entre recantos, e nos desencontros, surgiu o inesperado: em meio àquelas fuligens e a tantos esquecimentos, sua letra desfazia-se em pó, e tal como sangue, ele se escorria diante da paisagem.



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