Pages

Wednesday, July 12, 2006

descanso em Pelotas - RS

Não é meu interesse repetir textos, imagens, enfim, estas coisas do silêncio e da escrita - seja com o lápis, seja com a luz - que me povoam. Mas é impressionante como palavra e texto se acompanham neste emaranhado obscuro que é a vida, e das coisas que nos interpelam no meio dos caminhos que vão se tornando possíveis - despercebidamente. Um dos filmes que mais me tocou nos últimos tempos foi Lavoura Arcaica, do diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho, sob a belíssima fotografia de Walter Carvalho, baseando-se no romance homônimo de Raduan Nassar. Um deleite para os sentidos, e eu não me canso de senti-lo. Lê-lo, nestes dias, tem sido um exercício de trazer à superfície da memória todas as imagens que o filme me provocou. E singularizar a vida no exercício flutuante dos contrastes.

Segue um excerto da obra de Raduan Nassar, que não consigo definir, a não ser com meus suspiros.

"Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse "para onde estamos indo?" - não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso religioso, desprovido de qualquer dúvida: "estamos indo sempre pra casa".

Abrindo as lágrimas
que este papel materializando a escrita
sempre representa.
Demoro para abrir o caderno de folhas coloridas
que guardam meus pensamentos mais cinzas.
Diria-se evasão,
eu questiono,
como há algum lapso perdera esta característica
de a tudo questionar.
Na verdade, puro medo
desta personagem criada
que pega em pás (e cava fundo)
e se acredita forte.
Mas que, basta um vento de praia
e um pouco de solidão,
desaba.
Duas perdas
e praticamente duas despedidas
em meio à terra,
neste vento que sopra
carregando marés de desconsolo.
E eu tão sem palavras
para amenizar
qualquer
(toda)
dor.
Quisera ter caixas vermelhas
para nelas guardar corações
como relicários.
Eu faria parte desta coleção
onde o que menos importa
são os números.
Quisera fazer destas lágrimas
pontes
ou desses fios de luz
uma passagem para outro lugar

Wednesday, July 05, 2006

Detalhe de uma casa em ruínas- Rio Grande / RS

"Não é somente a casa aberta que se comunica com a paisagem, por uma janela ou um espelho, mas a casa mais fechada está aberta sobre um universo" (Gilles Deleuze e Félix Guattari).
Fazer uma conspiração de olhares... Atentar para o que é esquecido, não somente em seu aspecto memorialístico, mas também para o que é negado diariamente: aquilo que não queremos ver. Essas casas-universos, essas moradas-afetos, donde provém o nosso olhar impregnado nas paredes...
Fazer destes muros, destas rachaduras, desses adornos, até, metáforas das rugas.. Ah, essas paredes têm muito a contar...

Tuesday, July 04, 2006

Aquela vontade de limpar tudo
De a tudo limpar
E sentir-me nas bolhas brancas
Do sabão que se esvái
Enquanto as folhas de papel ficam molhadas
Como um retrato de minhas mãos
outrora sujas
num simples molhar
De a tudo molhar...
E fazer da atividade de cheiros doces
um espalhar de alfazemas
canelas e crisântemos
pela casa que sou eu
Eu e minhas mãos
molhadas
Eu e meus pensamentos
imersos
a cantar
(Do prazer) de a tudo cantar