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Thursday, May 17, 2007

Espinhos, esporas*

Havia uma tarde ensolarada em meio àqueles desconfortos casuais. Ele sentou. Abriu o casaco, e tentou se sentir menos inquieto. Nas flores o orvalho, mas não, ele não o podia tocar. A perfeição que lhe sugiria não comportava as incertezas. Mas por quais recônditos se escondiam tais lapsos de perfeição? O mundo não era nem um pouco sereno... Sábio se achava, mas estava só. Enfim, a vida se apresentava tal qual dobra, fissura, e já não tinha como dominar. A dor se instaura, e neste instante já está tentando esticar as pernas, e esquecer. Não é uma simples dor de cabeça de quem chega esgotado depois de um dia repleto de repetições. Não. Era algo mais, e não se poderia precisar. Tanto quanto rio que cruza com lagoa, era a sua ilusão de pertencimento no mundo. E não o bastavam os devaneios de um caminhante solitário, esperava bem mais da solidão.

Fecha os olhos. Esquece, esquece, esquece! - Mas não consigo!

Vai lutando, até que.


Agora que tudo parece mais calmo, e por vezes límpido, decide ligar as luzes. Desconfia de si e de todos. Olha no espelho, e finge estar contente. - Não preciso mais disto.

Sai de casa em busca de alguém com quem dividir [o seu vazio].

Bate a porta, mas não convence a ninguém.

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Embebida em Orós
* Sobre a renda labirinto pedras no meu peito aberto em chaga amor
Conheço a morte e a paixão, conheço a morte e os espinhos... esporas...