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Monday, December 11, 2006



Um dia frio

apesar do intenso sol

que rodeava a passagem

dia de apagar velas

enquanto escorrem as lágrimas

d'o fim

Wednesday, December 06, 2006

PALAVRA

Tramas - Satolep/RS
Haviam poetas tortos
pequenos errantes
sem porvir
aqueles papéis esvoaçantesde
letras castas
sem ferir
interpérie espécie
viver à luz
de qual miséria?
Miséria é letra vazia
daquela de nada dizer
de um tal discurso
tocado ao vento
e que, sem perceber,
some.
Palavra é para ser respirada.

Depositário


Aquela sensação de estranhamento... Aquele banheiro, ladrilhos bicolores e disformes, prontos para fabricar a queda, e seus cabelos esvoaçantes, fechando a porta como quem se esconde de algo. Suspiros e estranhamentos. Nada mais parece em seu lugar. Prazer e medo.

Por quais escuridões passaram-se séculos, este espaço ainda sujo, sacralizando paixões em rituais, como se estivesse revivendo um abate (esconda-se, alguém está à sua procura...).

Esperava alguém.
Ouvia-se à porta batidas leves.
Eram batidas tão suaves, escondendo uma curiosidade latente. E poderiam ser de qualquer pessoa.

Não houve resposta, ninguém ousaria entrar naquele mundo, naquele pequeno mundo sujo e vil. O silêncio escondia a vergonha. Pequenas violência cotidianas.

Refez sua maquiagem. As lágrimas foram devidamente encobertas.
De volta à festa, os minutos passaram, ninguém notou a falta.
Aquela pessoa esperada havia encontrado alguém com quem dividir o seu vazio. Retorna mascarando desconsolo, aprendeu a fingir tão bem, ascese burocrata, nada mais dói, nem dá prazer. Chorou porque não admitiu se tocar, porque o corpo, nestas tragetórias, é mero depositário.

Fingiu tão bem
Ali
Ali onde não se geme
Ali onde não se arde
Ali onde não se vive
Só se passa

Monday, December 04, 2006

Aunque estoy a punto de renacer,
no lo proclamaré a los cuatro vientos
ni me sentiré un elegido:
sólo me tocó en suerte,
y lo acepto porque no está en mi mano
negarme, y sería por otra parte una descortesía
que un hombre distinguido jamás haría.
Se me ha anunciado que mañana,
a las siete y seis minutos de la tarde,
me convertiré en una isla,
isla como suelen ser las islas.
Mis piernas se irán haciendo tierra y mar,
y poco a poco, igual que un andante chopiniano,
empezarán a salirme árboles en los brazos,
rosas en los ojos y arena en el pecho.
En la boca las palabras morirán
para que el viento a su deseo pueda ulular.
Después, tendido como suelen hacer las islas,
miraré fijamente al horizonte,
veré salir el sol. la luna,
y lejos ya de la inquietud,
diré muy bajito:
¿así que era verdad?

«Isla», 1979
Virgilio Piñera, poeta cubano

Monday, November 27, 2006

Contact improvisasión

O limite do chão é
quando meu braço
sem perceber
toca o papel
corpo estranho
poeira nas mãos
e no rosto o cabelo solto
descontrolado
sem limite
poética dos fragmentos
(de mim)
jogados ao chão

---------

d'algumas experiências dançantes e moventes, ao som da voz da prof. argentina de Contact, Marina.
Lindo. Simplesmente.

Ulisses Carrion - México


Friday, November 24, 2006

Mandrágora

Daquelas tardes frias
de ópio enfileirando a poética
revisitando confins de memórias
rotos e amassados
senti pouco ou muito
de uma presença de ti
ainda não o sei.
Nos liames
foi que te percebi
em meio a lágrimas
e algumas ataduras do tempo
que se esvaem
naquela curvatura
entregue à passagem
das dobras, recheios ou desenlaces
do viver.
Pois não, alguma obra feita.
Paragens ou um sonho à espera
de quem (o) sonhe
Frituras do porvir
(Ah, quão entregue ao suor
que me aludes).
E depois,
dos lixos da vida
revestidos de brilhos
distâncias mínimas, quem sabe
ou uma aparência insuportável
a menos de dois passos
o vômito.
E lá onde bate a casca
a lágrima do tempo retorna (retoma)
por que cargas fede?

Ah, mandrágora memória
Deixe-me em paz

Barbara Kruger


Wednesday, November 22, 2006

Escritas e esboços

Meu primeiro esboço para a escrita: a sua auto-flexão. Não seria refleti-la, mas propor, com ela, a formação de novos mundos, desdobramentos. Para isto, utilizo-me de alguns referenciais, sendo tecidos principalmente a partir de afirmação encontrada em uma seção do Zaratustra de Nietzsche (2005), intitulada “do ler e escrever”; [...]

Compor sobretudo um desejo: tratar Nietzsche com a devida insubmissão (ou não limitação?) a seus escritos, como o estudante que abandona seu mestre e tenta escrever suas próprias linhas, tal qual o personagem-conceitual Zaratustra o quer, demonstrando que “um modelo não é uma prisão, ele convida a encontrar seu caminho e a manifestar sua ingratidão” (ONFRAY, 1995, p. 13), não tornando a sombra do mestre um espólio, ou fabricando um dublê de intelectual... Assim, procuro tratar a escrita neste pequeno escrito (desculpe-me a repetição) como algo ligado à vida, e sendo delineada conforme as experiências, escolhas e modos de existir. O escritor como um artífice da palavra, da palavra que fere, suscitando fluxos e devires, enfim, movimento e vida.

A primeira passagem: “De tudo o que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com seu próprio sangue. Escreve com sangue, e aprenderás que sangue é espírito” (NIETZSCHE, 2005, p. 66).

...

sangue delicado

Monday, October 30, 2006

Clandestina



Tem momentos que abruptamente as coisas tocam, e, zum, levam a milhares de outros universos. Em face da movimentação das "Interações Urbanas" que estão ocorrendo em Pelotas / Rs, acabei procurando mais informações sobre o grupo / coletivo paulista BijaRi, e cheguei a encontrar milhares de coisas interessantes a partir desta procura. Este site (clandestina.com) encontrei em meio a estas buscas desenfreadas. Algumas imagens ('dreams') eu adorei, dai resolvi colocar por aqui. Se por acaso houver um maior interesse, via encantamento, acessem:



* Numa próxima: Fotos da Intervenção "Ocupe o Vazio", feita em Pelotas / RS, pelo Coletivo BijaRi.

Wednesday, October 25, 2006

Seu Gabriel

Tudo fruto de sonhos,daqueles que se tem ao dormir, mas que se vive, materializando - os em cada pedaço de existência... Assim encontro novamente Seu Gabriel, este coletor onírico que fez a sua Casa da Flor. Apresento imagens da sua obra-vida, mas convido à espiada no site http://www.casadaflor.org.br/ , para vislumbrarem muito mais do que imagens...



"Esta casa não é uma casa,
isto é uma história,
é uma história porque foi feita
por pensamento e sonho"
(Seu Gabriel)

Tuesday, October 24, 2006

Deixa Dizer

Cadernos de jorros poéticos e visuais - Vol I

Naquele momento eu senti
que presisava de muito mais
ar do que minhas narinas
poderiam suportar
era como se me faltasse
espaço para entrar tamanha
quantidade por ora uma sensação
de sufocamento além velocidade
que eu poderia voar
era como se eu
adentrasse as estradas
fizesse parte delas
momentaneamente
eu me deslocava em
direção ao sol sim ele é
laranja ou cor de
mas sempre me doía
os olhos quando o encarava
bem de frente
aquele vento amenizava
o raio cego indo ao
encontro da imagem
que nunca vou esquecer
na ponte em um horário
não estabelecido pelos ponteiros
mas ao relento do acaso
o sol laranja ou cor de
é um híbrido
e se mistura com a cidade

Wednesday, October 11, 2006

POeSi[magem]A - poesia à margem

Para aqueles que porventura não conheçam Arthur Bispo do Rosário, ele é um artista brasileiro que foi 'descoberto' fazendo criações artísticas no interior de um hospício, a partir de resquícios materiais e instrumentos que lhe eram doados, e constituiu uma obra muito interessante tendo o bordado enquanto técnica, bem como o trabalho da palavra enquanto imagem (e da imagem como texto), num tom messiânico e visceral.
Há no país um prêmio homônimo, que contempla pessoas que estão criando nestes espaços de serviços relativos à saúde mental. Isso faz-me lembrar de um programa de rádio da Rádio Com de Pelotas/Rs, no qual os apresentadores são os usuários da Capes da cidade (este é o termo corrente, evitando a tendência pejorativa), que é fantástico!
Eu simplesmente amei as fotografias que foram premiadas, e selecionei algumas para que possam ser apreciadas...

"Retrato Programado"
Intervenção sobre foto p&b, de Maria Aparecida de Paula, usuária do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, Campinas, SP.


"Solidão"

de André Luiz Xavier, usuário do CAPS/Itapeva e membro da Associação Franco Basaglia, São Paulo, SP.


"A Descoberta"

de Marli Coelho Marques de Abreu, usuária do Ambulatório de Saúde Mental do Mandaqui, São Paulo, SP.

Tuesday, October 10, 2006

Não

Controladores de humor
sociedade perfeita
rouba-se tudo o que é humano
por um minuto de pílula da felicidade ideal.
A formalidade impera
e a cura tornou-se normalidade
a dor é a medida daquele que se nega a sentir
basta arriscá-la que dela se abstém...
(mortificação via anestesia)
Demasiadamente bombástica
a realidade de repetições discursivas
sim, este é o mundo "moderno",
espera-se as férias para poder viver paixões,
mas já não se tem tempo para sentir o que quer que seja,
qualquer coisa que "desestabilize"
o normalizante vício de não parar nunca,
ainda que não se chegue a lugar algum.
Esta ênfase ao movimento desenfreado,
esta pós-modernidade,
dicursinho banal
(foda-se)!
Sinto vontade de vomitar
frente ao novo império do novo,
que é tão conservadorquanto o tradicional o é...
Minha vontade é explodir o mundo,
está tão difícil viver nele.
Talvez seja melhor explodir-me
ante a tantos desajustes.
Nao,
eu não consigo concordar com o consenso.
Não,
eu não pretendo uma atitude conciliadora.
Não,
os meus princípios não vislumbram
uma epopéia simplória do "todo".

Primeiro ato de solidão.

Friday, September 29, 2006

Thursday, September 14, 2006

Fotógrafo do abismo da luz
não, esta luz não liberta
como fosso de obscuridade.
O toque de uma imagem,
o que ela transpira
além de luz... corpo
Ruminante sentido do desconsolo
de experimentações excessivas
e excitantes
a visão é janela,
dizem.
Mas ela não deixa de ser quadrada
um recorte espacial que promove além
mas reduz a realidade
ao ponto em que se olha...

E onde se escondem as portas?
portas-passagens
movimentos espaço-tempo
do devir ao qual se interfere
mas que jamais se consegue barrar a corrente?
Portas-corpos.
Vistas tácteis.
Para ver é necessário muito mais que olhos.


(Imagens de Bavcar)

Tuesday, September 05, 2006

29/08/06

Neste tudo que passou
vou ouvindo vozes
poemas
pessoas
desertos
de quem passa
de tudo que vai
sem ao menos dizer adeus
de quem não tirou
o véu
Encosto este canto de mim
em um abrigo qualquer
estes poréns afins de nós
enfim
tudo que se foi
tal qual lágrima
sob o sabor da dor
que se esvai no canto
de um infinito
ao léu

Thursday, August 17, 2006

O fascínio do fogo

Imagem do filme Fahrenheit 451, de François Truffaut
"Somos uma minoria de indesejados lamentando por zonas selvagens"

Como seria se fôssemos proibidos de ler? Como se constituiria a nossa subjetividade?

Os bombeiros que outrora apagavam incêndios ateiam fogo em obras milenares – a prática da leitura se tornou infame, e o livro um objeto de potência subversiva.

"Todos um dia desejamos saber o que eles contêm. Mas tenha certeza disso – eles não dizem nada, nada".

Para quê ler, se isto só traz infelicidade ao homem?

As palavras, estas junções-letras que só formam contradições. Filosofia-moda, uma hora dizem-nos pré-determinados, outra dizem-nos livres... Trocam de certezas como quem troca de roupa, estes, o mais perversos...

Para quê pensar, se isso só traz inquietude ao homem, fazendo-o se sentir cada vez mais só?

Vivenciar emoções, este, sim, é o pecado maior. Diríamos pecado porque esta sociedade nuclear tem na família o símbolo da sua unidade, e desrespeitá-la é nego negar Deus. "O homem se torna anti-social quando lê", afinal, percebe novos mundos, e a farsa daquele que se afirma absoluto...

Não há diversão e não há desvios.

Está tudo calculado, e a televisão que une ‘primos’ da mesma família (a idéia de Estado como uma grande união), impera sobre as tardes. "Vocês não vivem, esperam o tempo passar".

Grandes bibliotecas ainda permanecem escondidas, à espera de alguém que as faça vibrar ou que as tema, decidindo denunciá-las. Seus responsáveis são detidos para passarem por um ‘processo de educação’, e isso tanto se parece com aqueles desaparecimentos ditatoriais Brasil Argentina Chile e tudo o mais, mas não, os livros são queimados para o nosso bem...
Aquela senhora de anos em meio aos livros... Prefere com eles morrer à realidade de uma morte pela metade. Respirava vida, em meio ao fogo: nela, palavras.

"Os livros tornam os homens infelizes", eles teimavam em repetir. "Alguém que leu este livro certamente sabe mais do que quem não o leu" – infelizes os homens porque devem ser iguais. Esta igualdade sinônimo de nivelamento e mecanicidade. Os homens devem ser iguais na sua falta de vida.

Não que esta se encontre apenas nos papéis escritos; ela está também nos em branco, querendo-se dizer, na prática da escrita, no desejo de habitar um fora da linguagem, uma guagueira por dentro da língua maior: uma história que se inscreve no justo contorno, e que faz a vida pulsar, para além dos eus, famílias, Estados, enfim, para além de todo e qualquer instituído... Porque o problema, afinal, não é o de se limitar a sensação a este modo de perceber o mundo, mas, sim, o de se negar a escolha deste tipo de vivência.

Todos grandes escritores Genet Miller Tolstoi Kafka Klossowski Caroll... Até que as margens decidem tornarem-se obras, "homens-livros", decorando aquilo que é palavra, tornando-a carne... "Ali está À espera de Godot, de Samuel Beckett".

Esta potência da obra que se transfigura em vida, o quanto podem mover subjetividades e criar o novo, ou possibilitar o diverso...

Ah, e o que seria Fahrenheit 451, se não fossem eles, os livros? O momento em que se queimam...

Mas da memória dos homens-livros ninguém pode retirá-los...

Wednesday, August 16, 2006

O pintor do espaço lança-se no vazio, 1960.

"Tenho por adquirido que no coração do vazio, tal como no coração do homem, há fogos que ardem" (Yves Klein)

Arte xamã
o artista que leva muitos
para dentro de sua obra
e leva-se a si mesmo
em outros
extrapola o lugar-comum
e faz do espaço
umafuga

Tuesday, August 15, 2006

Das inspirações lúdicas...

Trago uma das mais intensas em mim,

Náthaly,

Sob meus recortes imagéticos...

Saturday, August 12, 2006

De algum fotográfo russo
que despercebidamente encontrei
por meio das dicas de meu amigo Daniel :)

Fotos tão, mas tão lindas, que decidi dividi-las.

Thursday, August 10, 2006


Sentiendome tan sola
me pongo a escribir
los apuntes de una vida
de lacunas

Friday, August 04, 2006

Wednesday, July 12, 2006

descanso em Pelotas - RS

Não é meu interesse repetir textos, imagens, enfim, estas coisas do silêncio e da escrita - seja com o lápis, seja com a luz - que me povoam. Mas é impressionante como palavra e texto se acompanham neste emaranhado obscuro que é a vida, e das coisas que nos interpelam no meio dos caminhos que vão se tornando possíveis - despercebidamente. Um dos filmes que mais me tocou nos últimos tempos foi Lavoura Arcaica, do diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho, sob a belíssima fotografia de Walter Carvalho, baseando-se no romance homônimo de Raduan Nassar. Um deleite para os sentidos, e eu não me canso de senti-lo. Lê-lo, nestes dias, tem sido um exercício de trazer à superfície da memória todas as imagens que o filme me provocou. E singularizar a vida no exercício flutuante dos contrastes.

Segue um excerto da obra de Raduan Nassar, que não consigo definir, a não ser com meus suspiros.

"Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse "para onde estamos indo?" - não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso religioso, desprovido de qualquer dúvida: "estamos indo sempre pra casa".

Abrindo as lágrimas
que este papel materializando a escrita
sempre representa.
Demoro para abrir o caderno de folhas coloridas
que guardam meus pensamentos mais cinzas.
Diria-se evasão,
eu questiono,
como há algum lapso perdera esta característica
de a tudo questionar.
Na verdade, puro medo
desta personagem criada
que pega em pás (e cava fundo)
e se acredita forte.
Mas que, basta um vento de praia
e um pouco de solidão,
desaba.
Duas perdas
e praticamente duas despedidas
em meio à terra,
neste vento que sopra
carregando marés de desconsolo.
E eu tão sem palavras
para amenizar
qualquer
(toda)
dor.
Quisera ter caixas vermelhas
para nelas guardar corações
como relicários.
Eu faria parte desta coleção
onde o que menos importa
são os números.
Quisera fazer destas lágrimas
pontes
ou desses fios de luz
uma passagem para outro lugar

Wednesday, July 05, 2006

Detalhe de uma casa em ruínas- Rio Grande / RS

"Não é somente a casa aberta que se comunica com a paisagem, por uma janela ou um espelho, mas a casa mais fechada está aberta sobre um universo" (Gilles Deleuze e Félix Guattari).
Fazer uma conspiração de olhares... Atentar para o que é esquecido, não somente em seu aspecto memorialístico, mas também para o que é negado diariamente: aquilo que não queremos ver. Essas casas-universos, essas moradas-afetos, donde provém o nosso olhar impregnado nas paredes...
Fazer destes muros, destas rachaduras, desses adornos, até, metáforas das rugas.. Ah, essas paredes têm muito a contar...

Tuesday, July 04, 2006

Aquela vontade de limpar tudo
De a tudo limpar
E sentir-me nas bolhas brancas
Do sabão que se esvái
Enquanto as folhas de papel ficam molhadas
Como um retrato de minhas mãos
outrora sujas
num simples molhar
De a tudo molhar...
E fazer da atividade de cheiros doces
um espalhar de alfazemas
canelas e crisântemos
pela casa que sou eu
Eu e minhas mãos
molhadas
Eu e meus pensamentos
imersos
a cantar
(Do prazer) de a tudo cantar

Wednesday, June 28, 2006

Detalhe de janela de uma casa antiga

CANAL


Nada mais sou que um canal

Seria verde se fosse o caso

Mas estão mortas todas as esperanças

Sou um canal

Sabem vocês o que é ser um canal?

Apenas um canal?


Evidentemente um canal tem as suas nervuras

As suas nebulosidades

As suas algas

Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas

Mas por favor

Não pensem que estou pretendendo falar

Em bandeiras

Isso não


Gosto de bandeiras alastradas ao vento

Bandeiras de navio

As ruas são as mesmas.

O asfalto com os mesmos buracos,

Os inferninhos acesos,

O que está acontecendo?

É verdade que está ventando noroeste,

Há garotos nos bares

Há, não sei mais o que há.

Digamos que seja a lua nova

Que seja esta plantinha voacejando na minha frente.

Lembranças dos meus amigos que morreram

Lembranças de todas as coisas ocorridas

Há coisas no ar...

Digamos que seja a lua nova

Iluminando o canal

Seria verde se fosse o caso

Mas estão mortas todas as esperanças

Sou um canal.

(Patrícia Galvão - Pagu)


Como o tempo tem suas ironias


Uma espera em hospitais, minhas rugas, minha lembrança viva, a a guardiã de minhas memórias recônditas, e eu sem nem poder me despedir, logo um dia após felicitar em meio a balões coloridos meu mais pequenino ser risonho...
Chuvas, arco-íris tímido, e, de repente, um sol intenso que rompe as nuvens e, por segundos, enche meu rosto de luz.
Dormia em banco recostado, signo de cansaço e ansiedade, tudo assim, tão terminal e paradoxalmente pulsante.
Sentia-me tão alheia a este universo do cinza, justo no momento em que pegava o ônibus para Satolep, a cidade mais cinza da região do frio.
Nenhum momento se repete, o que é o mais fascinante nisto tudo.
Digamos que, hoje, estou definitivamente imersa no preto & branco (ou seria nos contrastes?)...

Saturday, June 24, 2006

Acerca de uma quinta-feira qualquer (Brasil pára por jogos de futebol)

Sentir o despretencioso de virtudes

Ah, que males estes de procurar uma terceira pessoa (que não encontro).

Teimo na escrita de mim, e nada verte além de sangue (ou pólvora) daquelas lembranças de infância. Meus poucos trocados íam ao brinquedo explosivo e eu me divertia, só, a caminhar e ouvir os barulhos.

Como hoje.

Estávamos eu e a cidade, por alguns instantes. Contemplávamos os nossos mundos, as nossas diferenças e os nossos pertencimentos.

A nossa simetria.

Foi estranho este encontro a sós. Porque naquela tarde tudo parara, eu a andar. E engraçado que meu véu era o observar: os barulhos e as bolhas de sabão, que me atrevi aos montes.

Aquele dia de rememorar

de dar nós na garganta

dos olhos que brilham

Que alguns chamam de "Hoje"

Eu chamaria de sempre em mim.


Tuesday, June 20, 2006


Van guarda
corpo
estrume
de espermas
(pouco) jorrados
ah, o humor
húmus
cuspido
na cidade
a la nave
louca
de um suspiro
qualquer
marginal
cronópio
palavra...
esse signo
que fere
fura
atravessa
e
rompe
rasga
Uma flor também
queima

Thursday, June 01, 2006

Fonte:
Blog No Instante

Uma das coisas mais bonitas: interessante como tudo chega despretenciosamente, ao acaso.

Primeiramente, uma maravilhosa sequência de slides sobre Gláuber Rocha e o cinema, que encontro quando procuro uma poeta paulista. E depois, um dos blogs mais interessantes que me deparei nos últimos tempos, quando faço uma procura por 'poesia e fotografia'...

Sem palavras.. Deixem que 'No instante' fale por si...

"Sempre procuro um outro ângulo para me espiar de longe. Não é aconselhável permanecer muito perto do que se conhece. Tenho olhos maiores do que o rosto. Meus olhos crescem quando estou com fome. A fome cresce sem olhos. Minha maior vantagem é a de estar vivo para me discordar"
(F.Carpinejar)

Coisas que me perpassam como linhas, estas linhas de afeto que me fazem sentir a corrente, o movimento.
Tal escrito me atravessa no justo momento em que procuro alguns referenciais pouco mais familiares, no meu cotidiano por vezes não percebido.
Também quando resolvo me calar, e quando passeio silenciosamente com meus cachorros pela cidade cinza, e quando vivo um filme e não seguro as lágrimas, e até quando fico na janela a olhar os passantes e a mexer no meu cabelo.
Foi assim, tão de repente, ainda que sob o choque contundente das pequenas decepções, que percebi que somos muito mais povoados (as) do que pensamos...
E é ótimo, realmente, poder discordar-me.

Nós nascemos na Sbórnia
Lá o sistema político é o Anarquismo Hiperbólico

Wednesday, May 31, 2006



"Sempre posso parar, olhar além da janela. Mas do interior do trem, nunca é fixa a paisagem" (C.F.Abreu)

Realmente... Há de se fazer da vida um trem. Nunca fixar paisagens, não fazer de fraquezas, limites... Não há limites para quem não tem telhas cobrindo horizontes.

Monday, May 29, 2006


Tocando na água (ou no céu?), Iasmyn, meu bem.


Renovar-me, Repovoar-me, Encontros, Caminhos...

Aquele arco-íris
No lugar nostálgico
Da minha infância
Cujo cotidiano leve fluía
Sem perceber poesia
Nas árvores que se beijam...

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Final de semana reabilitado. Encontrar pessoas que nos potencializam a enxergar pequenas belezas no cotidiano é fundamental. Um domingo colorido suavemente, de pequenos silêncios não perturbadores. Meus grandes-pequenos amores, minhas garotas-poesia, estes laços sangüíneos que tanto me fazem alguém mais serena e, diríamos, até, mais confiante na humanidade (?Serei eu tão dramática?)...
Iasmyn e Tzitzi, meus fotógrafos faboridos!
Nathali, a menina mais doce que conheço. Seu olhar diz tudo, e naquele momento trouxe-me exatamente aquilo que eu mais precisava.
Engraçado como o pôr do sol fica mais laranja e belo, e como as estrelas brilham mais quando a gente se sente assim...