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Monday, December 11, 2006



Um dia frio

apesar do intenso sol

que rodeava a passagem

dia de apagar velas

enquanto escorrem as lágrimas

d'o fim

Wednesday, December 06, 2006

PALAVRA

Tramas - Satolep/RS
Haviam poetas tortos
pequenos errantes
sem porvir
aqueles papéis esvoaçantesde
letras castas
sem ferir
interpérie espécie
viver à luz
de qual miséria?
Miséria é letra vazia
daquela de nada dizer
de um tal discurso
tocado ao vento
e que, sem perceber,
some.
Palavra é para ser respirada.

Depositário


Aquela sensação de estranhamento... Aquele banheiro, ladrilhos bicolores e disformes, prontos para fabricar a queda, e seus cabelos esvoaçantes, fechando a porta como quem se esconde de algo. Suspiros e estranhamentos. Nada mais parece em seu lugar. Prazer e medo.

Por quais escuridões passaram-se séculos, este espaço ainda sujo, sacralizando paixões em rituais, como se estivesse revivendo um abate (esconda-se, alguém está à sua procura...).

Esperava alguém.
Ouvia-se à porta batidas leves.
Eram batidas tão suaves, escondendo uma curiosidade latente. E poderiam ser de qualquer pessoa.

Não houve resposta, ninguém ousaria entrar naquele mundo, naquele pequeno mundo sujo e vil. O silêncio escondia a vergonha. Pequenas violência cotidianas.

Refez sua maquiagem. As lágrimas foram devidamente encobertas.
De volta à festa, os minutos passaram, ninguém notou a falta.
Aquela pessoa esperada havia encontrado alguém com quem dividir o seu vazio. Retorna mascarando desconsolo, aprendeu a fingir tão bem, ascese burocrata, nada mais dói, nem dá prazer. Chorou porque não admitiu se tocar, porque o corpo, nestas tragetórias, é mero depositário.

Fingiu tão bem
Ali
Ali onde não se geme
Ali onde não se arde
Ali onde não se vive
Só se passa

Monday, December 04, 2006

Aunque estoy a punto de renacer,
no lo proclamaré a los cuatro vientos
ni me sentiré un elegido:
sólo me tocó en suerte,
y lo acepto porque no está en mi mano
negarme, y sería por otra parte una descortesía
que un hombre distinguido jamás haría.
Se me ha anunciado que mañana,
a las siete y seis minutos de la tarde,
me convertiré en una isla,
isla como suelen ser las islas.
Mis piernas se irán haciendo tierra y mar,
y poco a poco, igual que un andante chopiniano,
empezarán a salirme árboles en los brazos,
rosas en los ojos y arena en el pecho.
En la boca las palabras morirán
para que el viento a su deseo pueda ulular.
Después, tendido como suelen hacer las islas,
miraré fijamente al horizonte,
veré salir el sol. la luna,
y lejos ya de la inquietud,
diré muy bajito:
¿así que era verdad?

«Isla», 1979
Virgilio Piñera, poeta cubano