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Wednesday, December 06, 2006

Depositário


Aquela sensação de estranhamento... Aquele banheiro, ladrilhos bicolores e disformes, prontos para fabricar a queda, e seus cabelos esvoaçantes, fechando a porta como quem se esconde de algo. Suspiros e estranhamentos. Nada mais parece em seu lugar. Prazer e medo.

Por quais escuridões passaram-se séculos, este espaço ainda sujo, sacralizando paixões em rituais, como se estivesse revivendo um abate (esconda-se, alguém está à sua procura...).

Esperava alguém.
Ouvia-se à porta batidas leves.
Eram batidas tão suaves, escondendo uma curiosidade latente. E poderiam ser de qualquer pessoa.

Não houve resposta, ninguém ousaria entrar naquele mundo, naquele pequeno mundo sujo e vil. O silêncio escondia a vergonha. Pequenas violência cotidianas.

Refez sua maquiagem. As lágrimas foram devidamente encobertas.
De volta à festa, os minutos passaram, ninguém notou a falta.
Aquela pessoa esperada havia encontrado alguém com quem dividir o seu vazio. Retorna mascarando desconsolo, aprendeu a fingir tão bem, ascese burocrata, nada mais dói, nem dá prazer. Chorou porque não admitiu se tocar, porque o corpo, nestas tragetórias, é mero depositário.

Fingiu tão bem
Ali
Ali onde não se geme
Ali onde não se arde
Ali onde não se vive
Só se passa

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