Os pássaros, a ponte, as mesmas frases pintadas, o céu, o sol. “Um dia como outro qualquer” com um quê melancólico. Este lugar não me pertence, mas é como se estivesse difusa em cada limiar dessas passagens. Lá sou eu, aquele pássaro negro entre pássaros brancos, a única passagem livre para motos, a pedra que o homem resolveu pintar e chamar de casa, alguma incidência leve de movimento nos galhos das árvores, sou eu também que as sopro. Sou a árvore que não respeita a linha, um galho seco onde tudo o que se vê é água, sou mesmo uma natureza morta, e somente poucos percebem que, na verdade, não passo de uma natureza adormecida...
Sou as roupas coloridas estendidas num varal. Eu sol.
Eu sou o reflexo do céu nas poças de chuva. Sou também uma cerca que não delimita. Sou ainda a bagagem daquela senhora. E às vezes, eu carrego nada.
Eu sou o vôo rente, e estou sempre abraçando a grande figueira, logo que passa o desvio do trem.
Eu sou um abraço.
Sou um bicho sem socorro no asfalto.
No comments:
Post a Comment