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Sunday, December 02, 2007

Faço um filme da cidade sob a lente do meu olho - um exercício de escrita em vários ângulos

Beatriz Ferreira ₢

Recordo-me das pinturas do Romantismo, no qual as ruínas figuravam como elemento representante de melancolia, mas também de uma realidade interior, em que a natureza é fator predominante. Homens figuram ao redor de paisagens em ruínas, porque nelas, a natureza se sobrepõe à obra constituída.

Esta é uma imagem que foi feita em São José do Norte, em 2007. Um lugar que aprecio muito, não somente pela possibilidade de avistar a cidade de Rio Grande ao fundo, mas por aqui haver uma ruína que vai se modificando com as estações, sendo tomada cada vez mais pelas forças das águas.

Estava com um grupo de amigos, fotografávamos e mostrávamos as belezas daquela pequena cidade para outros amigos estrangeiros. Nesta parte do percurso, um grupo de crianças percebeu a incidência de uma língua outra, e começou a dizer “-Hi, my name is ...”. O interesse que, em princípio, era pelos estrangeiros, transformou-se num interesse em saber o que estávamos fotografando. Uma pergunta impactante, feita por uma delas: “-O que tem para fotografar aqui em São José do Norte, moça?”. Eis que, depois de momentos de descontração, olhávamos o pôr do sol. As crianças se dispersaram, e uma delas se sentou na pedra, um dos resquícios de uma grande casa, que está completamente em ruínas.

Sem ela perceber, havia muitas coisas, sim, a serem fotografadas naquele belíssimo lugar. Incrível como a menina se relaciona com a paisagem, como se estivesse sempre ali, à minha espera.