Não é meu interesse repetir textos, imagens, enfim, estas coisas do silêncio e da escrita - seja com o lápis, seja com a luz - que me povoam. Mas é impressionante como palavra e texto se acompanham neste emaranhado obscuro que é a vida, e das coisas que nos interpelam no meio dos caminhos que vão se tornando possíveis - despercebidamente. Um dos filmes que mais me tocou nos últimos tempos foi Lavoura Arcaica, do diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho, sob a belíssima fotografia de Walter Carvalho, baseando-se no romance homônimo de Raduan Nassar. Um deleite para os sentidos, e eu não me canso de senti-lo. Lê-lo, nestes dias, tem sido um exercício de trazer à superfície da memória todas as imagens que o filme me provocou. E singularizar a vida no exercício flutuante dos contrastes.
Segue um excerto da obra de Raduan Nassar, que não consigo definir, a não ser com meus suspiros.
"Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse "para onde estamos indo?" - não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso religioso, desprovido de qualquer dúvida: "estamos indo sempre pra casa".